sábado, 2 de julho de 2011

Para J.

Ando fugindo e desejando os pingos desse cinza acima de nós.


 De Tiuma lembro pouco, misturo um pouco de lembrança com  inventividade para preservar meu senso de localização.Talvez esse  progresso sofra de acefalia.

"Poetas y mendigos, músicos y profetas, guerreros y malandrines, todas las criaturas de aquella realidad desaforada hemos tenido que pedirle muy poco a la imaginación, porque el desafío mayor para nosotros ha sido la insuficiencia de los recursos convencionales para hacer creíble nuestra vida. Este es, amigos, el nudo de nuestra soledad"

Óculos-teleobjetivas , o homem do "Vivir para contarla" , discursa para Academia Sueca.
Vomita nossa "realidad desaforada".Insana como as narrativas de  A. Pigafetta ,  as aventuras de Alvar Núñez Cabeza de Vaca e a ambiação dos generais(Sim eles insistem em serem mais prodigiosos que a nossa imaginação)

"La independencia del dominio español no nos puso a salvo de la demencia. El general Antonio López de Santana, que fué tres veces dictador de México, hizo enterrar con funerales magníficos la pierna derecha que había perdido en la llamada Guerra de los Pasteles. El general Gabriel García Morena gobernó al Ecuador durante 16 años como un monarca absoluto, y su cadáver fue velado con su uniforme de gala y su coraza de condecoraciones sentado en la silla presidencial. El general Maximiliano Hernández Martínez, el déspota teósofo de El Salvador que hizo exterminar en una matanza bárbara a 30 mil campesinos, había inventado un péndulo para averiguar si los alimentos estaban envenenados, e hizo cubrir con papel rojo el alumbrado público para combatir una epidemia de escarlatina. El monumento al general Francisco Morazán, erigido en la plaza mayor de Tegucigalpa, es en realidad una estatua del mariscal Ney comprada en Paris en un depósito de esculturas usadas."


Ando misturando Xariar, Seu Luís e os Aureliano e a cada linha uma mistura,um bolôlo de prodígio , ambição  e nojo.



PS: Se tem certeza me diga o que é essa fragmentação do sentimento?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A D.,

Fragmentar sentimento, os bons atores fazem com maestria.  Pensava nisso, veja só, no instante em que me foi entregue seu envelope. H. tinha razão.
Sou recém chegado à zona-da-mata. O progresso mal chegou e já o vejo decadente. As novas tubulações estão sendo postas, levará água aonde antes tinha de sobra. A miséria aqui é coisa de primeiríssimo mundo, luxuosa, e se faz economia em vista das torneiras a serem possuídas. Os canos também. O quarto e a casa são acolhedores.
Com o fechamento do engenho o vilarejo anda manco, mas come-se muito bem.

"E as risadas feriam o ar, os gritos, o coco pegara logo animadíssimo, aquela gente dançava, sapateava na noite, alegríssima, o coro ganhava amplidão no entusiasmo, as estrelas rutilavam quase sonoras, o ar morno era quase sensual, tecido de cheiros profundos. E era estranhíssimo. Tudo cantava, Cristo nascia em Belém, se namorava, se ria, se dançava, a noite boa, o tempo farto, o ano bom de inverno, vibrava uma alegria enorme, uma alegria sonora, mas em que havia um quê de intensamente triste. E um solista espevitado, com uma voz lancinante, própria de aboiador, fuzilava sozinho, dilacerando o coro, vencendo os ares, dominando a noite:
Vô m'imbora, vô m'imbora
P'a Paraíba do norte!...
E o coro, em sua humanidade mais serena:
Olê, rosera,
Murchaste a rosa!..."
Quase acredito em Mário de Andrade.

Agora segue um conselho: Ande mais, em idades idas o que fazes te faria bem! Agora...
As pessoas em Tiúma são felizes,
J.

para J:

"Cá posei olhos..."
Ando pouco.Há coisas a cair
"... em palavras ..." 
de madrugada.Ando pouco.Certo que escutei.Se fosse aí diríamos Chuva , mas aqui não por favor.

Dos quartos contíguos cheiro de álcool e suor.Os dias começam antes do que eu posso.Sobre R. Piglia encontrei dois "Nombre falso" e "Ciudad ausente" ,mas , depois de cinco centenas de dias com Seu Luís,Trajanos,Julião,Moisés,Marina "...julgo que ainda não me restabeleci...".

Tudo parece fragmentado e não sei o quanto tempo vai durar. "Estou só, só como ninguém ainda estêve, Ôco dentro de mim, sem depois nem antes."

Andei um pouco hoje e  não sei se posso escrever.Conseguir seria o verbo.

De madrugada li e  pensei em haikai como resposta , mas em um dos quartos um velho recitava Caeiro.Pensei que era o Poeta preludiando a Dama de preto.

Lhe remeto esse ajuntamento
Seco de sentimento
embebido de café.

                                                                ps:alguém morreu em um dos quartos talvez ela tenha errado de porta.

D.







domingo, 5 de junho de 2011

A d.,

Por aqui as coisas vão bem sem você. Apago as luzes como me recomendaste e não gosto. Maria da penha também não enfrenta sem receio o seus próprios passos. Imagines tu, a falta que ela me faz. Minha avó e as escolhas que a deprimem.

Até quando ficas aí? As pessoas perguntam e já não sei mais o que falar, pior que a inveja da gêmea malsucedida. Se puderes, traz-me um bom fado português momerizado, como bem fazes.

Acordei tarde hoje, amigo, e meu primeiro cigarro do dia foi à noite. Não te preocupes, eu mesmo faço isso.

Minhas mãos ainda estão ásperas, mas minha testa está menos enrugada. Ando rindo pouco.

Beijos amargos de café,
J.