terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A D.,

    Da Rua Santo Elias eu sentia o cheiro que vinha da cozinha de um restaurante que nem sei se ainda sobrevive. Escondido entre a espada de São Jorge e a papoula que não dava flores. Em cima da cadeira do meu avô, na ponta dos pés, observava os tetos das construções mais baixas e de telhas vagabundas. Eu sabia da onde vinha o cheiro porque em cima da cozinha existiam duas bolas metálicas que giravam e faziam o ar circular ali dentro. As vezes, em dias de sorte, ele vem e entra pelo meu nariz de fumante, como se os anos não fossem maldosos e evitassem de engolir as lembranças da casa velha. Fragmentar sentimentos é ignorar o fim de tudo, é relevar a sucessão das coisas. É voltar.
 
    Ando em outro passo. O tédio é o vilão, meu caro. O tédio. Cuidado com a repetição, do contrário cairás na sina     dos paulistanos, automatizaram a rotina e hoje andam velozes, olhando para as pontas dos sapatos. Sabes que nessa época há dias sem sombras em São Paulo?! O sol de lá é cansado. É muita coisa pra dar conta.

    Nesses ultimos quinze dias ando experimentando cada canto da minha casa sem “prazerar” nenhum. Tomo banho e me lavo. Piso em ovos e fujo dos alarmes. Tomo outro banho e me lavo. E me lavo e me lavo e me lavo e me lavo. E me lavo.

Beijos amargos de café,
J. 

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