Gosto das embarcações porque não
deixam rastros. As marcas dos caminhos que trilham são apagadas no
momento em que são traçadas, de uma forma que não nos permite
voltar aos lugares que não paramos por desatenção.
Minha vontade é descaminhar e me
afogar nessa incerteza de dar passos, todavia me perco como um bom
contrabandista. Estradas que criei para os meus pés. As bifurcações
continuam aparecendo sem placas, sem avisos, diante dos meus olhos
que não dão conta.
Que espécie de acordos tens travado
com a vida?
O que buscas?
Por onde andas?
Por aqui Junho resolveu deflagrar a
lei da chuva, que, se de um lado derruba casas, doutro faz brilhar o
asfalto. Cultivo uma nada escondida preferência pelo cinza que deixa
as pessoas elegantes e úmidas. Gosto tanto que chego a ser inocente:
Por exemplo, me é impensável a ideia de pessoas que, no inverno,
apelem à traição, licitação de emergência da alma. Me corrija
se estiver errado. A culpa sim, medida provisória do amor, veste bem
a estação dos lençóis divididos.
No mais, teimo em descobrir coisas que
não quero, a cruz que nos é comum.
Agora vou. É tarde. Andar é questão
de equilíbrio, amigo, o que faz dos corredores estreitos lugares
agradáveis. Paredes que se espremem para oferecer apoio ao corpo,
que possui a estranha necessidade de revisitar a cozinha, na qual as
panelas ainda tentam, desesperadas, melhorar as coisas.
Beijos amargos de café,
J.